Sabias que em 1519, o português Fernão
de Magalhães foi a primeira pessoa a realizar uma viagem de circunavegação ao
mundo? E que em 1572 é publicada uma obra de literatura de viagens em Portugal?
Sim, o poema épico de Camões sobre viagem de Vasco da Gama à Índia. Pois é! O
espírito aventureiro e de curiosidade dos portugueses não é de agora e foram e
são em muito enaltecidos. Tudo começou (ou não) em 1415, quando o então rei de
Portugal, D. João I, organizou uma expedição ao norte de África, da qual
resultou a conquista de Ceuta. Este marco deu início ao período dos
Descobrimentos Portugueses. Depois de Ceuta, Portugal acrescentou ao seu
território as ilhas da Madeira e dos Açores, que ainda hoje fazem parte do
território nacional, seguindo-se as colónias africanas na Guiné, Cabo Verde, Angola,
Moçambique e São Tomé e Príncipe, o Brasil nas Américas e no Oriente a
Índia,
Ormuz atualmente pertencente ao Irão, Malaca na Malásia, Macau e Timor.
Did you know that in 1519, the Portuguese Fernão
de Magalhães was the first person to make a circumnavigation trip in the world?
And that in 1572 is published a work of travel literature in Portugal? Yes,
Camões' epic poem about Vasco da Gama's trip to India. Yeah! The adventurous
spirit and curiosity of the Portuguese is not from now, it was and still is in
high esteem. Everything began (or not) in 1415, when the king of Portugal, D.
João I, organized an expedition to North Africa, from which resulted the
conquest of Ceuta. This landmark began the period of the Portuguese Discoveries.
After Ceuta, Portugal added to its territory the islands of Madeira and the
Azores, which are still today part of the national territory, followed by the
African colonies in Guinea, Cape Verde, Angola, Mozambique and Sao Tome and
Principe, Brazil in Americas and in the East India, Ormuz currently belonging
to Iran, Malacca in Malaysia, Macao and Timor.
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Lagoa das Sete Cidades in Ilha de São Miguel, Azores (photo by Telmo Costa, edited by Littlelle) |
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Ilha de São Vicente, Cabo Verde (photo by Iura Monteiro, edited by Littlelle) |
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São Tomé e Príncipe (photo by Iura Monteiro, edited by Littlelle) |
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Moçambique (photo by Érica Rei, edited by Littlelle) |
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Cristo Rei at Rio, Brazil (photo by João Boavida, edited by Littlelle) |
Por tudo isto, para assinalar o
dia de Portugal, conhecido como Dia de Camões, de Portugal e das Comunidades
Portuguesas, hoje gostava de fazer uma alusão ao património português fruto da
nossa história, que fui encontrando em algumas viagens.
For all of this, to mark the day of Portugal,
known as Camões Day, Portugal and the Portuguese Communities, today I would
like to make an allusion to the Portuguese heritage, the result of our history,
which I found on some of my trips.
Morocco
Marrocos teve um papel importante
na expansão portuguesa. Foi onde tudo começou em 1415. Portugal teve uma
presença histórica em Marrocos que durou cerca de 354 anos, durante os quais
foram conquistadas várias praças como Arzila, Alcácer Ceguer, Safim, Mazagão, Azamor
ou Tânger. Na altura o domínio sobre Ceuta e Tânger permitiria controlar as
rotas comerciais e a navegação no Estreito de Gibraltar.
Morocco played an important role in Portuguese
expansion. It was where it all began in 1415. Portugal had a historical
presence in Morocco that lasted for about 354 years, during which several
squares were conquered, such as Arzila, Alcácer Ceguer, Safim, Mazagão, Azamor
or Tangier. At the time the dominion over Ceuta and Tangier would allow to
control the commercial routes and navigation in the Strait of Gibraltar.
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Tangier (photo by Littlelle) |
Hoje o legado português em
Marrocos é existente nas cidades costeiras, sendo visível nomeadamente em
algumas fortificações. Na altura da ocupação portuguesa, devido a prováveis
ameaças de novos ataques, os portugueses transformaram as fortificações
existentes seguindo uma nova arquitetura militar. Em algumas cidades
verificou-se também uma espécie de tentativa de arrumação das caóticas ruas da
medina, através da construção da rua direita que unia as principais portas das
cidades. A título de exemplo, em Tânger, apesar das posteriores intervenções à muralha, mantêm-se dois muros ao longo das Ruas da Kasbah e de Portugal, a frente de mar e suas couraças e a Cidadela, cuja entrada é defendida pelo Baluarte dos Fidalgos, projetado por Miguel de Arruda.
Today the Portuguese legacy in Morocco is
present in the coastal cities, being visible in particular in some
fortifications. At the time of the Portuguese occupation, due to probable
threats of new attacks, the Portuguese transformed the existing fortifications
following a new military architecture. In some cities there was also a kind of
attempt to arrange the chaotic streets of the medina, through the construction
of the right street that united the main doors of the cities. For example, in Tangiers, in spite of the
subsequent interventions to the wall, two walls are maintained along the Kasbah
and Portugal Streets, the sea front and its breastplates and the Citadel, whose
entrance is defended by the Baluarte dos Fidalgos, designed by Miguel de
Arruda.
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Wall of Tangier (photo by Littlelle) |
Em Essaouira, contrariamente ao
que é dito, já nada resta do antigo Castelo Real de Mogador, construído por
Diogo de Azambuja, a não ser algumas pedras reutilizadas na construção da
“Skala” do porto de Essaouira pelo Sultão Sidi Mohamed Ben Abdellah. Existe na
cidade uma Igreja portuguesa arruinada, construída por comerciantes que aí se
fixaram no século XVIII.
In Essaouira, contrary to what has been said,
there is nothing left of the old Royal Castle of Mogador, built by Diogo de
Azambuja, except for some stones reused in the construction of the
"Skala" of the port of Essaouira by Sultan Sidi Mohamed Ben Abdellah.
There’s in the city a ruined Portuguese church, built by merchants who settled
there in the 18th century.
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Skala in Essaouira (photo by Littlelle) |
Goa, India
Em 1498, a frota de Vasco da Gama
levou 10 meses para chegar a Calecute, cidade localizada na costa ocidental da
Índia, abrindo assim a porta aos portugueses para o comércio com o Oriente. Goa,
enquanto cidade pertencente às rotas comerciais da Índia, após ter sido conquistada
por Afonso de Albuquerque em 1510, transformou-se na capital do império
português do oriente até 1961, ano em que foi tomada pelo exército indiano.
In 1498, Vasco da Gama's fleet took 10 months
to reach Calicut, a city located on the west coast of India, thus opening the
door for the Portuguese to trade with the East. Goa, as a city belonging to
Indian trade routes, after being conquered by Afonso de Albuquerque in 1510,
became the capital of the Portuguese empire of the East until 1961, when it was
taken over by the Indian army.
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Portuguese arriving in India, mural at a Hotel in Goa (photo by Mário Santos, edited by Littlelle) |
Após mais de 400 anos de “domínio”
português (não gosto dessa palavra), existem ainda hoje bairros com arquitetura
típica portuguesa, e onde podes continuar a ouvir falar e ler português. Por
exemplo, quando passeava pelo Bairro das Fontainhas, onde os nomes das ruas e
das casas mantêm nome português, vieram pessoas à janela, por ouvirem alguém na
rua a falar português. Existem também algumas igrejas católicas (ex. Igreja da
Imaculada Conceição, Sé Catedral - a maior igreja de Goa, Igreja de São Caetano,
Igreja de São Francisco de Assis) em estilo manuelino, maneirista ou barroco, consideradas
Património da Humanidade pela Unesco, como é o caso da Basílica do Bom Jesus,
onde se encontra o túmulo de São Francisco Xavier, missionário com a “missão”
de conversão dos locais ao cristianismo. Este assunto é delicado, pois se
algumas conversões foram consideradas voluntárias, sabe-se que com a Inquisição
algumas delas foram também violentamente forçadas. E este impacto da
colonização é de lastimar. Mas não só de religião se trata, Portugal construiu
ali também várias escolas.
After more than 400 years of Portuguese
"domination" (I don’t like that word), there are still neighbourhoods
with typical Portuguese architecture, where you can continue to listening and speaking
Portuguese. For example, when I was walking in the Bairro das Fontainhas, where the names of the streets and houses
have a Portuguese name, people came to the window, because they listen someone
on the street speaking Portuguese. There are also some Catholic churches (ex.
Church of the Immaculate Conception, Cathedral - the largest church in Goa,
Church of St. Caetano, Church of St. Francis of Assisi) in Manueline, Mannerist
or Baroque style, considered by UNESCO as a World Heritage Site, such as the
Basilica of Bom Jesus, where is the tomb of St. Francis Xavier, a missionary
with the "mission" of converting locals to Christianity. This issue
is delicate, because if some conversions were considered voluntary, it’s known
that with the Inquisition some of them were also violently forced. And this
impact of colonization is such a shame. But it’s not all about religion, in
fact, Portugal also built several schools there.
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Colonial houses in Goa (photo by Littlelle) |
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Bairro das Fontainhas in Goa (photo by Littlelle) |
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Bairro das Fontainhas in Goa (photo by Littlelle) |
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Color of Goa (photo by Littlelle) |
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Portuguese houses (photo by Littlelle) |
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Portuguese houses (photo by Littlelle) |
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Streets with Portuguese names (photo by Littlelle) |
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Colonial houses (photo by Littlelle) |
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Se Cathedral (photo by Littlelle) |
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Basilica of Bom Jesus (photo by Littlelle) |
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Our Lady of Immaculate Conception Church (photo by Littlelle) |
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The mixture of cultures of Goa (photo by Littlelle) |
Macau, China
Em 1513, o primeiro navegador Europeu chegou à China, mais
precisamente a Hong-Kong, sendo ele o português Jorge Álvares. A presença
portuguesa fortaleceu-se nos anos seguintes culminando com a instalação de um
porto comercial em Macau no ano de 1557 que perdurou até 1999, ano em que Macau
deixou de ser colónia portuguesa, passando a região administrativa especial da República
Popular da China.
In 1513,
the first European navigator, namely the Portuguese Jorge Álvares, arrived in
China, more precisely in Hong Kong. The Portuguese presence strengthened in the following years culminating
with the installation of a commercial port in Macao in 1557, that lasted until
1999, when Macao ceased to be a Portuguese colony, and got to be a special
administrative region of China.
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Portuguese ship on a tradicional Portuguese pavement in Macau representing a (photo by Littlelle) |
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Welcome to Macau (photo by Littlelle) |
Dos 400 anos de história de
administração portuguesa, são visíveis as marcas arquitetónicas
indiscutivelmente portuguesas. Ao passeares por Macau, caminhas pela típica
calçada portuguesa, vês os candeeiros com design luso a iluminar as ruas e deparas-te
com casas colonias com fachadas típicas portuguesas. Nas ruas a sinalização
está em português e em chinês, bem como os nomes das ruas, até nos autocarros
as informações são igualmente escritas em português. É curioso observar o
contraste entre as igrejas católicas com campanários e os templos budistas em
tons vermelhos envoltos em incenso. De ressalvar que a maioria da população é
Budista, existindo no entanto, fruto do intercâmbio entre o Ocidente e o
Oriente, uma comunidade considerável de cristãos católicos. Para conheceres o
património português em Macau, tens como pontos de passagem obrigatória o Real
Senado, as Ruínas da Igreja de São Paulo, a Santa Casa da Misericórdia ou a
fortaleza do Monte, de onde tens uma vista bonita para a cidade. Visitei também
o Jardim Camões, onde se encontra supostamente a gruta onde Camões terá escrito
parte dos Lusíadas. Visitei ainda um museu do chá. Achei curioso, pois essa
bebida e a própria palavra Chá (derivada do palavra chinesa 茶 que
significa 'apanhar, colher') foi importada para Portugal, o qual terá sido o primeiro
país europeu a entrar em contacto com esta bebida. Mais tarde, o consumo do chá
terá expandido para a Europa, tendo sido popularizado em parte pela princesa
portuguesa que casou com Carlos II da Inglaterra, Catarina de Bragança, através
das "Tea parties" que realizava. Falando ainda de comes e bebes,
podes saborear pastéis de nata enquanto vagueias pelas ruas da cidade e
encontras vários restaurantes típicos portugueses. Por tudo isto, ao passear
pelo centro histórico de Macau fui invadida pelo sentimento de “estar em casa”,
sabendo que estava, no entanto, a quilómetros de distância! Foi sem dúvida o
sítio onde me senti mais em Portugal, fora dele!
With 400 years of Portuguese administration
history, the indisputably Portuguese architectural traces are visible. While
strolling through Macao, you walk along the typical Portuguese sidewalk, you
can see the Portuguese-style streetlights illuminating the streets and you will
find colonial houses with typical Portuguese facades. In the streets the signs
are in Portuguese and Chinese as well as the names of the streets, even in the
buses the information is also written in Portuguese. It’s curious to note the
contrast between Catholic churches with bell towers and Buddhist temples in red
tones wrapped in incense. It should be noted that the majority of the
population is Buddhist, but there’s a considerable community of Catholic
Christians, due to the exchange between the West and the East. To get to know
the Portuguese heritage in Macao, you have as a must-see attractions the Royal
Senate, the Ruins of the Church of São Paulo, the Santa Casa da Misericordia or
the fortress of Monte, from where you have a beautiful view of the city. I also
visited the Camões Garden, where there’s a cave, which is supposed to be where
Camões wrote part of the Lusíadas. I also visited a tea museum. I found it
curious, because this drink and the word Tea (derived from the Chinese word 茶 which means 'to collect, to
harvest') was imported into Portugal, which was the first European country to
come into contact with this drink. Later, tea consumption expanded to Europe,
and was popularized in part by the Portuguese princess who married Charles II
of England, Catherine of Braganza, through the "tea parties" she
held. Speaking of eating and drinking, you can tasty egg tarts as you wander
the streets of the city and find several typical Portuguese restaurants. For
all of this, as I strolled through the historic center of Macao I was invaded
by the feeling of being at home, knowing that I was miles away! It was
undoubtedly the place where I felt most in Portugal, outside of it!
In the 6
days that I spent there I was able to explore Macao in detail, an itinerary that
will remain for a forthcoming publication. In subsequent publications will be
deepened an itinerary with suggestions for each of these sites.
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Macau by night (phoro by Littlelle) |
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